terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Sobre o "timing" perfeito.

Eu, pessoa incrivelmente cética frente aos believes mundanos, sempre acreditei que as coisas tem um timing perfeito. É tão engraçado saber quando algo vai acontecer ou quando algo vai dar certo... Sempre exigiu um certo esforço, é claro, mas eu sempre simplesmente soube.
Coisas bestas, como por exemplo: sabia que ia conseguir estudar na faculdade que eu queria, mesmo depois de não passar no vestibular.
sabia que ia conseguir fazer meu intercâmbio pra Londres, mesmo sabendo todo o esforço financeiro e de organização que isso traria.
sabia que a vida não iria me decepcionar, não por crer na existência de um "Deus" ou "força maior", mas por simplesmente enxergar os objetivos de uma maneira bem clara, que para mim seria sofrido demais encarar o fato de que eles poderiam não ser alcançados.
o tipo de sonhadora ao estilo Amélie Poulain. ou ao estilo do personagem principal do "Noites Brancas", do Dostoiévski.
Valeu a pena encarar a depressão na infância, e me esconder dentro dos livros e da escrita quando eu não podia ter nada mais.
Agora, a depressão é o que não tenho mais: tenho amigos, tenho vida, não tenho mais que me sentir terrivelmente amargurada com a minha aparência ou com o sentimento de inferioridade que tanta gente tentou me passar o tempo inteiro. Só quem foi uma criança gordinha que queria sumir a cada segundo do dia sentindo que a vida inteira ia ser a mesma merda sabe o que eu quero dizer. E, então, no meio da minha depressão, com nove anos, eu descobri que podia escrever. Os livros já existiam na minha vida há muito tempo, desde "pippi meia longa" até a Linéia do Monet. Achava tudo muito mágico.
Comecei a escrever versinhos bobos de criança. Com 11, começaram a sair poesias. Algumas foram publicadas no jornal de Rio Grande. Eu era uma criança. Mas sabia que aquilo ia dar em alguma coisa. Me imaginava, mais velha, como uma escritora. Tinha certeza absoluta que era isso que eu ia ser, como se fosse inevitável. Sabia, também, que, de alguma forma, eu ia dar um jeito de não ser infeliz para sempre, que eu poderia ter uma vida "normal" como a das outras meninas se quisesse. Que eu poderia ter a aprovação das outras pessoas, e não só a repugnância. Mas sabia que nada disso tinha pressa, porque as vida leva seu curso naturalmente (não sem esforço).

Embarco para Londres daqui a 4 dias, prestes a deixar toda uma vida por aqui. E o quão perfeito foi receber essa notícia, agora, de que o meu livro não só vai ser publicado, mas que foi aceito pelo Instituto Estadual do Livro que é, meu Deus, mais que uma editora, mas o sonho de qualquer pessoa?
E se a notícia viesse em Londres, e eu não pudesse ver a cara da minha mãe emocionada e me abraçando? Não seria a mesma coisa.
Sempre vem no momento certo. Posso não acreditar em Deus, nem em amor - certamente estou longe de acreditar em amor, ou em vampiros que brilham no sol, ou achar que a vida é um belo morango brilhante como algumas pessoas sinceramente acham, MAS eu acredito muito que coisas maravilhosas acontecem quando você acredita nelas.
"É um tempo difícil para os sonhadores" - Amélie Poulain.
Por algum motivo, para mim nunca foi!