segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Já tinha desistido disso aqui, da vida, do amor, de todos os clichês que se possa imaginar. Uma existência quase autêntica era a minha próxima utopia, pena que não durou.
Desisti de fazer terapia.
Desisti de tentar achar as pessoas interessantes (principalmente aquelas que não se interessam pela minha escrita). É muito fácil se iludir.
De qualquer forma, algo me fez acordar para a vida. Estava limpando minha caixa de e-mail quando achei um e-mail perdido, no meio do ano passado, de um desconhecido que leu um conto meu logo que eu postei. Eu havia postado uma primeira versão, que depois revisei e aumentei bastante, mas, mesmo assim, a essência estava ali. Aquele e-mail foi a coisa mais linda e encorajadora que alguém já me disse, e eu sequer conheço essa pessoa. É estranho pensar que desconhecidos podem se identificar mais com você do que seus amigos, seu namorado, quem quer que seja. É engraçado pensar que pessoas que não te conhecem vão se interessar e vão ler algo até o fim – e ainda chorar e se preocupar em te mandar um e-mail, enquanto aqueles que convivem com você todos os dias sequer fazem questão de te conhecer.
Eu estava quase beirando a desistência, ainda mais tendo em vista que o IEL ainda não publicou os resultados (e o recebimento de originais finalizou em julho!).
Desistir é muito mais fácil. Mas quando você tem um livro pronto, dois contos para um novo livro, um e-mail lindo na sua caixa-de-entrada e a lembrança de uma menininha de 9 anos com um caderno azul pensando “vou ser uma baita escritora quando eu crescer!!”, como se houvesse uma bolha entre mim e o mundo que só consegue se romper através da escrita, quando você tem tudo isso fica difícil pensar em desistir.

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Nessa dimensão repleta de possibilidades que chamamos de futuro, eu vejo tudo como na estrutura de sonho, ou delírio, uma coisa sem cores concretas, só borros indistinguíveis. Mas é tudo tão bonito. Não há cores, mas há a claridade. Eu sei que tem sol, em um céu de algum lugar que desconheço, e sinto que há movimento, e dentro desse movimento algum sentido – e não é isso que chamamos de vida? Com a claridade, a clareza das idéias. Se tudo é tortuoso e as idéias não se constroem no presente, no futuro há o sentido. Algum sentido, qualquer sentido, uma seta que aponta para lá, até lá, bem longe – o infinito?
Sou um ser calado, uma existência que não se pronuncia durante as horas. Um movimento de vida sorrateiro, pequeno, impercebível. Sou tão cru quanto uma folha de árvore deixada sob o chão, sim, uma folha leve e abandonada, caída pela terra sem poder ser livre, sem poder voar. Sem poder algum. Satisfaço-me daquilo do outro, da riqueza e da beleza que há no outro, nos lugares, nas paisagens, naquilo que me parece tão cheio. O mar me parece cheio. A vida me parece densa em outras esferas. Em todas as suas faces, exceto na minha: a minha face é vazia, a minha face não se enxerga. A realidade parece escapar a cada segundo, como se qualquer movimento equivocado pudesse me fazer regredir. Quero tanto me construir no outro ao mesmo passo em que quero ser só.
Na solidão não há beleza, embora nela resida uma riqueza imensa. No entanto, a beleza não, ela está é nas horas construídas com algum intuito. Aquelas palavras que são ditas carregadas de alívio e que fazem latejar alguma coisa dentro de nós. Aquilo que precisa sair, em forma de sentimento exposto, abrindo o caminho para as feridas, inúmeras feridas, e uma nova ardência que virá a incomodar a cada hora de cada dia. Mas é melhor que saia, é preciso aliviar, é preciso dizer. Na solidão, nada disso é possível. Essa troca, esses olhares – que se toquem ou não os olhos, e que se toquem ou não as mãos, os corpos e mais do que tudo as almas, é o momento construído aquele que iremos recordar mais tarde. Na solidão, horas vazias e sem sentido. E que ajudam a modelar aquele sentir que há por dentro, e que direcionam a mente para algum ponto específico, sim, é tudo isso nas horas sozinhas. A reflexão profunda e a imersão para dentro desse sentir ardente, somente nos momentos sem ninguém. Só o eu puro, cru, bruto ali. O eu sem personagens. O eu que não precisa fingir para ninguém, aparecer nem demonstrar nada, pois está tão terrivelmente só que quase não se enxerga. É esse eu, aquele que ninguém vê, o que realmente somos  "



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